domingo, 10 de agosto de 2008

Profeta do psicodélico - IstoÉ entrevista Grof

Stanislav Grof foi um dos primeiros a conhecer o LSD e agora é o maior guru da psicologia transpessoal

MIRNA GRZICH
.
Com Timothy Leary, recentemente falecido, e Ralph Metzner, da Universidade de Harvard, o psiquiatra húngaro, hoje radicado nos Estados Unidos, Stanislav Grof compõe o triângulo principal da chamada cultura psicodélica dos anos 60 e 70. Fascinado pelos estados de alteração de consciência, ele criou as bases do que se convencionou chamar de psicologia transpessoal. Uma ciência baseada em paradigmas científicos que reconhecem a alma e a relação entre consciência e matéria. Grof acredita que não se pode mais tratar as pessoas como corpos ou mentes. No final de maio, ele esteve em Manaus onde presidiu a 15ª Conferência Internacional de Psicologia Transpessoal e se confessou entusiasmado com o panreligiosismo, a pajelança e os rituais indígenas brasileiros. Nesta entrevista para ISTOÉ conta um pouco de sua história e lembra o primeiro contato com o LSD, então uma droga que se imaginava capaz de provar que a psicose e a esquizofrenia não eram doenças mentais, mas apenas o resultado de alterações químicas.

ISTOÉ - Quais as diferenças entre a psiquiatria convencional e a transpessoal?
Grof - Pessoas que têm um contato direto com a espiritualidade recebem diagnósticos de esquizofrênicos ou psicóticos. A psiquiatria transformou a espiritualidade em algo psicopatológico. Eu não conheço nenhuma religião que não tenha começado com uma experiência visionária dos fundadores, algo que chamaríamos hoje de uma experiência transpessoal. Segundo a psiquiatria, Santa Tereza foi uma histérica, São João da Cruz um esquizofrênico, Maomé um epilético. Eu não estou dizendo que não existem doentes com modificação de consciência que advém de problemas orgânicos. Estou sim falando de experiências onde uma visão de mundo mais ampla chega à consciência. Não como uma distorção de mundo, mas como uma oportunidade de compreender mais sobre o universo e complementar nossa visão.


ISTOÉ - Por que decidiu se dedicar a este ramo da psicologia?
Grof - Quando era criança, em Budapeste, Walt Disney era o meu herói, e queria trabalhar com histórias em quadrinhos para o cinema. Mas fiquei tão excitado com as leituras sobre psicanálise que decidi estudar medicina. À medida que fui me aprofundando, me interessei pela análise de sonhos, sintomas neuróticos, lapsos de memória e psicoses. Quando percebi que se pode fazer muito pouco de prático com a psicanálise tradicional fiquei desapontado. É muito tempo, dinheiro e energia, e os resultados não são convincentes. Cheguei a me arrepender de não ter seguido a carreira cinematográfica.
.
ISTOÉ - E quando se iniciou com drogas psicodélicas?
Grof - Estava trabalhando com os primeiros tipos de tranquilizantes, como o melaril, desenvolvido pela Sandoz, quando eles nos mandaram uma caixa cheia de LSD, para ver se havia alguma utilidade na área psiquiátrica. A idéia principal era provar que a psicose e a esquizofrenia não eram doenças mentais, mas uma alteração química. Outra idéia era utilizar o LSD como treinamento não-convencional para psiquiatras, estudantes e enfermeiras para entenderem melhor os pacientes que tratavam. Era 1955, e eu me ofereci para a experiência. Foi uma transformação formidável para mim. Comecei a trabalhar sistematicamente na área de psicodélicos, e tive uma experiência mística poderosa, que me abriu espiritualmente.

ISTOÉ - Que experiência mística foi essa?
Grof - Eu tinha curiosidade de ver o que acontecia sob o efeito do LSD. Quando fui exposto a uma luz estroboscópica saí do corpo, do laboratório, do país, do planeta, e minha consciência se tornou o universo. Uma experiência inesquecível. Passei 20 anos pesquisando essa área. Depois mais 20 estudando a respiração holotrópica, onde se conseguem os mesmos efeitos somente com a respiração, sem o uso de drogas.
.
ISTOÉ - Além do LSD e da respiração holotrópica existem alguns métodos seguros para se alterar a consciência?
Grof - O trabalho ritual com dança e canto, ou usando tambores. Métodos bastante extremos, como o jejum, não dormir, retirar-se para um deserto, uma caverna ou uma montanha. Em muitas culturas há o uso de plantas psicodélicas: a maconha usada pelos sufis, por algumas tribos africanas e pelos rastafarianos; na América Central, o peyote, os cogumelos sagrados do México, a ayahuasca e a datura. Há também variadas técnicas de meditação, de dança, ioga, budismo, do sufismo, da cabala, e o misticismo cristão. Tudo isso leva ao contato direto com a espiritualidade, o que Jung chamaria de arquétipos do inconsciente coletivo. Outra dimensão importante dos estados alterados é provocar a cura de pacientes através desses estados, desenvolver a intuição, a inspiração artística e criativa.

"Fonte: Revista ISTOÉ, Junho de 2006."

http://www.terra.com.br/istoe/comport/139307.htm

Um comentário:

Dayse Batista disse...

Olá

Passei por aqui para ver quem eras, já que fizeste um comentário no meu post sobre o Grof (blog almadasletras). Os olhos do Grof são os mais impressionantes (profundos, inteligentes e astutos) que já vi. Também, pudera.
Estou em meio a um trabalho complicadíssimo, morri de vontade de ler tudo do teu blog, mas a leitura é pesada e não pode ser feita inconseqüentemente.
Preciso voltar.
Obrigada pela visita ao blog e um grande abraço.
Dayse ("Sísifo" em versão feminina)