quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O Paradoxo



O paradoxo repousa em harmonia
No seio de eternidade
Círculo de loucura e sanidade

Quando o conheci pela primeira vez
Fiquei chocado
Vislumbrado e aterrorizado
Lá daquele lado
O chão me foi tirado
Mergulhado na adimensão
Fui jogado por todos os lados

Rodei entre as possibilidades
Vislumbrei as mais diversas verdades
Envolvendo aquela mesma questão
E o querido paradoxo me torturou
Com ar de clareza e confusão

Voltei
Senti-me livre daquela prisão
Embora reconheça
Que permaneço na mesma ilusão
A charada não se resolve com resposta
Mas sim com aceitação

Luís Paulo Lopes

O Acordo do esquecimento


Concebendo a entrega como saída
Me vi numa situação
Em que não há alternativa
Se opto por controlar
O inferno abre sua porta
Se me entrego por completo
Talvez me ofusque
E escolha a ida sem volta

Se me deixo totalmente solto
Mergulho no mar
Do verdadeiro gozo
O paradoxo me eleva
Abre o céu
E me transforma no Todo

Para não cair no abismo profundo
Com o Êxtase firmo um acordo
Daqui não levo nada
Nenhuma pedra de seu tesouro
Permito-me observar
De forma ausente e presente
E tudo que se abre
Fecha-se imediatamente

Levo daqui
Nada além do contentamento
Seus segredos encerraram-se
Naquele mesmo momento
Mas em mim permanece
Algo além do efêmero
A jóia concedida
No acordo do esquecimento

Luís Paulo Lopes

quarta-feira, 18 de março de 2009

Uma nova imagem dos seres humanos - Stanislav Grof


As descobertas das últimas décadas sugerem fortemente que a psique não é limitada à biografia pós-natal e ao consciente individual freudiano, e confirma a verdade perene, encontrada em muitas tradições místicas, de que os seres humanos podem ser comensurados com tudo o que existe. As experiências transpessoais e o seu extraordinário potencial certamente atestam esse fato.

A nova imagem dos seres humanos é paradoxal por natureza e envolve dois aspectos complementares. Nas situações diárias abrangendo estados comuns de consciência, poderia ser apropriado pensar nas pessoas como máquinas biológicas. Porém, em estados mentais incomuns também podem demonstrar propriedades de campos infinitos da consciência — transcendendo o tempo, o espaço e a causalidade linear. Essa é a imagem que as tradições místicas têm descrito por milênios. Recentemente, recebeu-se o apoio inesperado da tanatologia, da parapsicologia, da antropologia, das psicoterapias existenciais e da pesquisa psicodélica, e também do trabalho com emergências espirituais.

(...) Aqui nos referimos ao mundo de conhecimento holotrópico (literalmente "caminhar para a totalidade", do grego holos = "todo" e trepein).

Nesse modo de conhecimento podemos vivenciar um amplo espectro de fenômenos; alguns deles são o restabelecimento vivido de eventos passados; outros são seqüências de morte e renascimento, e ainda outros são vários aspectos da dimensão transpessoal. Eles nos dão fortes evidências experienciais de que o mundo da matéria não é sólido, de que todas as suas fronteiras são arbitrárias e de que nós mesmos não somos corpos materiais, mas campos ilimitados de conhecimento. Demonstram também a possibilidade de que o tempo e o espaço newtoniano podem ser transcendidos e sugerem a existência de realidades e seres que não são de natureza material.

Na psiquiatria tradicional, todas as experiências holotrópicas têm sido interpretadas como fenômenos patológicos, apesar de a causa dos processos de doença nunca ser identificada; isto reflete o fato de que o antigo paradigma não tem uma explicação adequada para essas experiências e não foi capaz de dar conta delas de qualquer outro modo. No entanto, o estudo cuidadoso nas experiências holotrópicas demonstra que elas não são produtos patológicos do cérebro; ao contrário, revelam capacidades extraordinárias da psique humana e aspectos importantes da realidade normalmente escondidos da nossa consciência.

Retirado do livro: A tempestuosa busca do Ser; de Stanislav e Christina Grof

O paradigma emergente na ciência ocidental - Stanislav Grof


Os desenvolvimentos revolucionários em várias disciplinas delineiam agora uma visão de mundo que é radicalmente diferente da imagem newtoniana do universo. Algumas das mudanças mais radicais ocorreram na física, a base da ciência mecanicista. Com o advento da teoria da relatividade de Einstein e da física quântica, os conceitos tradicionais de matéria, tempo e espaço foram ultrapassados. O universo físico veio a ser visto como uma trama unificada de eventos paradoxais estatisticamente determinados, na qual o conhecimento e a inteligência criativa desempenham um papel muito importante.


O reconhecimento de que o universo não é um sistema mecânico (...), preparou o terreno para um entendimento da realidade baseado em princípios inteiramente novos. Essa abordagem ficou conhecida como holografia, porque algumas das suas características mais notáveis podem ser demonstradas com o uso de hologramas ópticos como instrumentos conceituais. Os dois cientistas que se tornaram conhecidos por suas contribuições a este novo modo excitante de ver a realidade são o físico David Bohm e o neurocientista Karl Pribram.

Um aspecto do pensamento holográfico particularmente relevante para a nossa discussão é a possibilidade de um relacionamento completamente novo entre as partes e o todo. No sistema holográfico, a informação é distribuída de tal modo que seu todo está contido e é acessível a todas as suas partes. Essa propriedade pode ser demonstrada cortando-se um holograma óptico em muitos pedaços e demonstrando que cada um de seus fragmentos é capaz de reproduzir a imagem toda.

O conceito de "informação distribuída" abre perspectivas inteiramente novas para a compreensão de como as experiências transpessoais podem mediar o acesso direto à informação sobre vários aspectos do universo que permanecem fora dos limites pessoais convencionalmente definidos. Se a pessoa e o cérebro não são entidades isoladas, mas partes integrantes de um universo com propriedades holográficas — se são, de algum modo, microcosmos de um sistema maior —, então é compreensível que possam ter acesso direto e imediato à informação exterior.

(...)

Espiritualidade, religião e a experiência do divino - Stanislav Grof


Para prevenir a má comunicação, gostaríamos de dizer o que entendemos pelo termo "espiritualidade" e em que sentido o usaremos. O termo espiritualidade deve ser reservado para situações que abrangem experiências pessoais de certas dimensões da realidade e que dão à vida de alguém e à existência em geral uma qualidade numinosa. C. G. Jung usou a palavra "numinosa" para descrever uma experiência que parece sagrada, pura e fora do comum. A espiritualidade é algo que caracteriza o relacionamento entre a pessoa e o universo e não requer, necessariamente, uma estrutura formal, um ritual coletivo ou a meditação feita por um sacerdote.

Em contraste, a religião é uma forma de atividade grupal organizada que pode ou não tender para a verdadeira espiritualidade, dependendo do grau em que ela proporciona um contexto para a descoberta pessoal das dimensões numinosas da realidade. Enquanto na origem de todas as grandes religiões estão as revelações visionárias de seus fundadores, profetas e santos, indicando o caminho, em muitos casos, com o passar do tempo, a religião perde a ligação com o seu núcleo vital.

O termo moderno usado para a experiência direta das realidades espirituais é a palavra "transpessoal", que significa transcender o modo usual de perceber e interpretar o mundo desde uma posição de ego individual ou ego corporal. Existe uma disciplina totalmente nova, a psicologia transpessoal, especializada em experiências desse tipo, e suas implicações e descobertas advindas dos estudos transpessoais de consciência são de fundamental importância para o conceito de emergência espiritual.

Os estados envolvendo encontros pessoais com as dimensões numinosas da existência podem ser divididos em duas grandes categorias. Na primeira, estão as experiências do "imanente divino", ou percepções da inteligência divina expressando-se no mundo da realidade diária. Todo tipo de criação — pessoas, animais, plantas e objetos inanimados — parecem estar impregnados pela mesma essência cósmica e pela mesma luz divina. Uma pessoa nesse estado compreende repentinamente que tudo no universo é manifestação e expressão da mesma energia cósmica criativa e que separação e fronteiras são ilusórias.

As voltas dessa minha vida


Meu corpo está no chão
Estático sem vida
Desbravando a mim mesmo
Em profunda internalização

A mente foi aprisionada
Dentro desse labirinto
Quando encontro a saída
Percebo ser outra encruzilhada

Quando a mente se perdeu
Nos corredores de sua invenção
Lá se foi minha tranquilidade
Afundei no desespero
Quando concebi que o labirinto
Percorre toda a eternidade

Visitei a insanidade
O paradoxo entortou a lógica
E concebi essa aparente incoerência
Como uma profunda verdade

Entendi que era a mente
E silenciei em contemplação
Elevei minha consciência
E no amor infinito
Percebi toda interconexão

Santo amor transcendental
Graça de adoração
A ti me entrego por completo
Confiante e sem medo
Em perfeita união

Graça a ti meu pai eterno
Tu que és a própria vida
Me prende, gira, tira o chão
Pra que eu aprenda e siga firme

Tu és todo meu amor
Que não cabe nas palavras
Só nessa gratidão linda
Que permeia e lava a alma


Luís Paulo Lopes

quarta-feira, 11 de março de 2009

Desafios conceituais à ciência - Stanislav Grof


Durante toda a história da ciência moderna, gerações de pesquisadores buscaram com grande entusiasmo e determinação os vários grandes caminhos de pesquisa oferecidos pelo paradigma newtoniano-cartesiano descartando prontamente conceitos e observações que teriam questionado algumas das premissas filosóficas básicas partilhadas pela comunidade científica. Muitos cientistas foram tão inteiramente programados por sua educação ou tão arrebatados e impressionados pelo seu uso pragmático, que aceitaram aquele modelo, de maneira literal, como uma descrição exaustiva e correta da realidade. Nessa atmosfera, incontáveis observações de vários campos foram sistematicamente descartadas, suprimidas ou mesmo ridicularizadas, com base em sua incompatibilidade com o pensamento reducionista e mecanicista que, para muitos, tornou-se sinônimo de um enfoque científico. (...)


As extraordinárias conquistas técnicas dessa ciência têm produzido um efeito negativo, apesar de seu potencial para resolver a maior parte dos problemas materiais que afligem a humanidade. Seu sucesso criou um mundo no qual seus maiores trunfos – energia nuclear, foguetes espaciais, laser, computadores e outros instrumentos eletrônicos, e os milagres da química e da bacteriologia modernas – transformaram-se em pesadelo e perigo vital. Como resultado vivemos em um mundo divido (...), perigosamente ameaçado por crises econômicas, poluição industrial (...). Por causa dessa situação mais e mais pessoas questionam a utilidade de um progresso tecnológico precipitado, que não é cuidado nem controlado por indivíduos emocionalmente maduros ou raças suficientemente evoluídas, capazes de manejar, de maneira construtiva, os poderosos instrumentos criados por esse mesmo progresso.