segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A psicologia analítica de Carl G. Jung: uma teoria anacrônica ou atual? - D. Júnior Viana Costa

Texto de D. Júnior Viana Costa. Email para contato: juniorvianac@oi.com.br

O texto abaixo surgiu da necessidade de sustentar determinadas posições pessoais quanto ao universo teórico e prático da Psicologia Analítica. Não pretende ser elaborado em formato acadêmico ou ser minha palavra final sobre o tema. As referências ao final servem apenas como orientação. Permaneço inteiramente aberto às discussões. Trata-se de um texto informal que visa somente esclarecer a política assumida, principalmente na minha página Carl Jung Sincero, que tem sido alvo de diversas críticas por parte de alguns junguianos. Admite algumas lacunas que poderiam ser melhores trabalhadas. As críticas são bem vindas desde que compreendam bem a posição de onde emito meu discurso. Considero útil a leitura do texto como forma de se saber o que move meu trabalho na referida página. Peço desculpas pelos eventuais erros de digitação ou de português que possam encontrar. Obrigado. 

Revisão de texto: JD Lucas 



A psicologia analítica de Carl G. Jung: uma teoria anacrônica ou atual? 

D. Júnior Viana Costa 

As mudanças pelas quais o mundo, sobretudo o ocidental, passou nos dois últimos séculos abalaram profundamente os pilares fundamentais da vida humana. Quase todos os campos da experiência humana sofreram grandes metamorfoses e levantaram novas questões quanto ao papel do homem na sua relação com o mundo, consigo próprio e com a sociedade. Religião, tradição moral, ciência, ética, espiritualidade, diplomacia, mundo do trabalho, sexualidade etc, todos os campos foram abalados e se viram forçados a rediscutir suas bases. O historiador egípcio Eric Hobsbawm (1917-2012), definiu o século XX como o Breve século, a Era dos Extremos, que teve início em 1914 com a Primeira Guerra (cem anos atrás) e fim no ano de 1991, com a queda do muro assinalando o fim da antiga União Soviética. A Guerra Fria pode ser tomada como uma metáfora que reflete certa dissociação psíquica no campo da política. De um lado, os ideais de comunidade, de outro a supervalorização do individualismo. 

Carl Jung nasceu em 1875 e veio a falecer em 1961. Presenciou as principais mudanças pelas quais o mundo passava, e, de certa forma, antecipou algumas das possíveis conseqüências de tais mudanças, sobretudo no que diz respeito ao uso unilateral da razão e seu prejuízo para psique coletiva, o que ainda compõe o paradigma científico de nossa época e fornece alguns dados para o entendimento do que seja o espírito de nosso tempo, embora o mesmo venha sendo questionado continuamente sobre sua legitimidade. A obra de Jung reflete o momento de transição entre um determinado modelo social e o surgimento de um novo modelo. A razão, elevada ao posto de deusa pela tradição burguesa iluminista, passou a gozar de onipotência e prestígio, incidindo diretamente na forma como a qual a sociedade se articula e se organiza: na produção em escala global, na filosofia individualista e no consumo de bens e serviços. O sentido da vida vai passando progressivamente do ser para o ter. Tenho, logo existo. 

A ideologia mercantil coloca como centro da existência o sujeito produtivo, consumidor, autônomo, racional, disciplinado, o que constitui um caráter externo e propagandista para que seus objetivos de mercado sejam alcançados. Surge o culto da individualidade, da subjetividade, da autonomia de ação, entre outros ideais. Mas, na mesma medida, por outro lado, há o esfacelamento do indivíduo real enquanto tal, substituindo-o por uma abstração ideológica que, na prática, só reflete o eclipse do sujeito e sua profunda alienação em relação ao social e, sobretudo, em relação a si mesmo (daí Jung defender tão enfaticamente a importância do autoconhecimento em nossos dias). Segundo Bauman, nossa situação atual é dada da seguinte forma: "A viagem nunca termina, o itinerário é recomposto a cada estação e o destino final é sempre desconhecido." O foco atual ainda é colocado no individual, mas não no singular, o que é verdadeiramente próprio de cada um, e é o que defende Jung. 

Jung foi um crítico desse modelo de organização social por perceber no mesmo a mutilação da criatividade e do simbólico humano, condições de grande importância para uma vida psicológica saudável. Jung criticou também os chamamos fenômenos de massa, como o Nazismo, o Fascismo e o Comunismo, por perceber neles o risco de se fazer desaparecer o indivíduo em nome de uma abstração coletiva sem rosto. Jung defendeu abertamente o lugar do individuo e seu papel de decisão frente aos dilemas do mundo atual em diversos de seus textos, entre os quais: Aspectos do Drama Contemporâneo, Presente e Futuro, Civilização em Transição e outros. A tradição intelectual no qual se insere é caudatária do romantismo alemão, ao filósofo Kant, Goethe, entre outros autores, incluindo místicos cristãos e representantes do ocultismo renascentista, como Paracelso e Swedenborg. Além da influência da Psicanálise e da psiquiatria. 

Sobre ao autoconhecimento, Jung parece intuir a incompreensão em torno do termo e faz a seguinte observação: 

“Normalmente confundimos "autoconhecimento" com o conhecimento da personalidade consciente do eu. Aquele que tem alguma consciência do eu acredita, obviamente, conhecer a si mesmo. O eu, no entanto, só conhece os seus próprios conteúdos, desconhecendo o inconsciente e seus respectivos conteúdos. O homem mede seu autoconhecimento através daquilo que o meio social sabe normalmente a seu respeito e não a partir do fato psíquico real que, na maior parte das vezes, lhe é desconhecido. Nesse sentido, a psique se comporta como o corpo em relação a sua estrutura fisiológica e anatômica, desconhecida pelo leigo, Embora o leigo viva nela e com ela, via de regra ele a desconhece. Tem então que recorrer a conhecimentos científicos específicos para tomar consciência, ao menos, do que é possível saber, desconsiderando o que ainda não se sabe, e que também existe.(...) O que comumente chamamos de "autoconhecimento" é, portanto, um conhecimento muito restrito na maior parte das vezes, dependente de fatores sociais - daquilo que acontece na psique humana. Por isso, ele muitas vezes tropeça no preconceito de que tal fato não acontece "conosco", "com a nossa família", ou em nosso meio mais ou menos imediato. Por outro lado, a pessoa se defronta com pretensões ilusórias sobre suposta presença de qualidades que apenas servem para encobrir os verdadeiros fatos.” (Jung). O último trecho grifado será importante para a discussão que pretendo levantar acerca da Individuação. 

A colisão entre os ideais religiosos e políticos é objeto de observação do comportamento da massa e do indivíduo frente a ela. Ele entende a atitude religiosa e a religião como caminhos viáveis para a preservação da autonomia, da subjetividade, ou ao menos como uma forma de resistência a massificação. A religião institucionalizada aparece em Jung ora como sendo nociva ao desenvolvimento individual, na medida em que tende a “matar” o simbolismo através de práticas ritualísticas que se distanciam da essência e não mais atendem ao papel de religar o ser humano ao “espiritual” e ao “divino”, ora como fator dinamizador curativo da psique, tendo em vista que, em muitos casos, é possível ao indivíduo se reconciliar com os símbolos de sua religião natal, por exemplo. Cabe ao individuo realizar um esforço de caráter pessoal para se sustentar psicologicamente entre os impasses religiosos e políticos. 

“Além das aglomerações de grandes massas humanas nas quais o indivíduo, mais cedo ou mais tarde, desaparece, um dos principais fatores da massificação é o racionalismo científico. Este deita por terra os fundamentos e a dignidade da vida individual ao retirar do homem a sua individualidade, transformando-o em unidade social e num número abstrato da estatística de uma organização. Nesse contexto, o indivíduo só desempenha o papel de unidade substituível e infinitesimal. Do ponto de vista racional e exterior, não se consegue mais imaginar como se poderia atribuir alguma dignidade à vida humana individual e chega mesmo a se tornar ridículo falar de valor ou sentido do indivíduo, dada a evidência da verdade que se lhe contrapõe.” (Jung) 

“No entanto, uma atitude ante as condições externas da existência só é possível se existir um ponto de vista alheio a elas. As religiões oferecem esta base ou, ao menos, tentam oferecer e, com isso, propiciam ao indivíduo a possibilidade de julgar e tomar suas decisões com liberdade. Elas significam uma reserva diante da pressão inevitável e patente das condições externas, as quais se entrega todo aquele que vive apenas para o mundo exterior e não possui, dentro de si, qualquer ponto de apoio.” (Jung) 

Na mesma década em que se dá a morte de Jung nota-se em vários lugares da Terra uma maior abertura ao universo religioso de outros povos, o que já estava ocorrendo algumas décadas antes, mas de forma ainda não tão evidente. Podemos pensar também como sendo um sintoma expresso da necessidade de uma nova mitologia. Os movimentos da contracultura, sobretudo os hippies, estavam profundamente interessados em meditação, hinduísmo, xamanismo, discos voadores, astrologia, enteogenia e marcaram o fim da década de sessenta e a década de setenta com seu idealismo e contestação. Não recordo o texto em que Jung aponta esse movimento em direção ao simbolismo de outros povos pelo ocidente, caso saibam localizar, agradeço. A contracultura legou ao ocidente a possibilidade de integração de culturas diversas, um indício claro dos tempos de crescente Globalização e a emergência do pluralismo religioso e cultural. No entanto, a Nova Ordem Mundial converteu o idealismo contracultural, em certa medida, em mero produto de consumo e os movimentos se viram captados pelo sistema econômico e social que eles próprios denunciavam. Vem da mesma época o crescimento do movimento New Age e o rock n roll, sendo Jung uma das figuras que aparecem na capa do álbum mais famoso dos Beatles, o Sgt Peppers, símbolo máximo da contracultura. 

"Historicamente, é, sobretudo em épocas profundamente marcadas por dificuldades físicas, políticas, econômicas e espirituais que o ser humano volta seus olhos angustiados para o futuro e se multiplicam então as antecipações, utopias e visões apocalípticas." (Jung) 

A espiritualidade atual é praticada de forma considerada livre; no entanto, há que se pensar que o que alguns hoje chamam de “nova espiritualidade ou espiritualidade libertária” não passam, majoritariamente, de um mercado que visa atender a determinadas demandas sociais de sentido e propósito de vida. É um subproduto da crise de sentido. E em crises alguém sempre procura vias pelas quais possas lucrat. Podemos dizer que a liberdade de se cultivar a espiritualidade oferecida hoje é a mesma liberdade pregada pelo neoliberalismo econômico, uma liberdade condicionada, limitada, e, muitas vezes, ilusória. Em uma livraria qualquer, que tomo como forma de ilustrar essa questão, é possível se deparar com livros que unem ensinamentos religiosos, psicologia e auto-ajuda em uma roupagem neo-espiritualista. É comum vermos tradições religiosas exóticas e esotéricas sendo expostas nas livrarias (o que é, no caso das últimas, uma contradição em si, pois o esoterismo consiste justamente em conhecimento secreto, e não público). Falamos de uma espiritualidade privada, onde cada um escolhe seus deuses indianos, indígenas, africanos, gregos ou outros fetiches mais para comporem seu panteão pessoal. Uma das postulações teóricas de Jung diz sobre a existência de um inconsciente coletivo ou inconsciente arcaico, o que nos fornece subsídios teóricos de grande importância para discutirmos quais as supostas raízes do fascínio exercido pelas religiões e mitologias “estranhas” ao nosso meio social direto e ordinário. Há a possibilidade de reconstrução de si mesmo a partir de elementos colhidos em culturas diversas, o que aponta para uma espécie de futura consciência planetária. Em muitos casos, porém, trata-se provavelmente de uma mera defesa neurótica contra o esvaziamento existencial e a falta de um sentido maior para a vida. Usam como bengalas muito mais do que como instrumentos úteis de fato para o autoconhecimento. Auto-ajuda não é autoconhecimento, é auto-engano, auto-justificação e preocupa-me sobremaneira o fato de que alguns psicólogos junguianos pareçam estar trabalhando em tal sentido. Há um clima de espiritualidade secularizada que não parece estar atendendo ao objetivo de oferecer segurança e suporte psíquico ao homem moderno, o que o verdadeiro autoconhecimento, segundo Jung, seria capaz de fazer. Pelo contrário, mesmo abundando nas livrarias tais livros, cursos de desenvolvimento pessoal, workshops, e sendo os mesmos consumidos desesperadamente pelo público, a humanidade prossegue de mal a pior. Níveis de stress e depressão estão em alta, igualmente ao numero de suicídios, toxicomania etc. Enquanto isso a psiquiatria continua procurando desesperada uma base biológica para o sofrimento humano. 

O casamento da psicologia analítica com a Nova Era é conhecido dos junguianos. É preciso perguntar o que há por detrás disso. A Nova Era de certa forma espiritualizou o materialismo e lhe deu ares de sacralidade. O dinheiro é tomado como símbolo de prosperidade espiritual, a natureza como a Grande-Mãe, o sexo e as drogas como formas de desabrochar potenciais ocultos. Tudo parece adquirir agora um sentido profundo, metafísico, e seguindo essa onda centenas de gurus fizeram e fazem fortuna. David Tacey escreve sobre isso em seu artigo “Jung e a Nova Era”. A Nova Era, diz o autor, parece dar benção a tendências que já são observadas claramente como tendo parte no funcionamento da sociedade. A diferença é que ela procura dar um sentido especial àquilo. A literatura espiritualista das livrarias e bancas de revista está sendo orientada por uma tendência megalomaníaca, as pessoas estão fissuradas em descobrir o seu “verdadeiro eu”, “o seu deus interior”, “o self divino”, o que tem levado a “delírios” de natureza egoísta e à alienação. Soa quase como as palavras da serpente edênica no sentido negativo: serás como Deus! É preciso um olhar atento para essa realidade ou estaremos colaborando ainda mais para o que julgo ser uma forma de alienação moderna. Todo junguiano deveria estar atento aos rumos incertos da civilização moderna, suas aspirações e devaneios, e desenvolver um olhar crítico do sistema atual. Não se trata de fazer da psicologia analítica uma forma de militância organizada, mas sim de buscar coerência entre a teoria e a prática. 

Não penso ser negativo esse movimento e interesse em si mesmo, denuncia uma necessidade, mas critico a forma como vem acontecendo, pois é, em grande medida, um narcisismo atualizado e disfarçado de nobres ideais morais. Observo também que existe esse movimento ao “espiritual”, mas a sociedade ainda se sustenta basicamente no hedonismo e na fugacidade, estando dissociada, bipolar, tanto nas idéias quanto nos prazeres. É positivo em certa medida as críticas levantadas e o caminho apontado por muitos que estão engajados em tal aspecto, não devemos tomá-las no aspecto simplesmente negativo. No entanto, a espiritualidade pop é, sob muitos aspectos, uma moda qualquer, mais um produto que se compra e se usa como aprouver. É um remendo psíquico de valor questionável. Deixaremos a psicologia junguiana exposta ao mesmo risco de se perder e de se confundir com práticas de tal natureza? Somos fruto de uma era de homens despedaçados, não totais, e quando falamos em individuação e completude psíquica devemos estar atentos. 

Nietzsche anunciou a morte de Deus como forma de expressar a crise da religião, sobretudo a cristã e sua predecessora judaica, e o papel que a ciência desempenharia cada vez mais na vida do homem moderno. Se o Deus tradicional morreu ou está agonizando, surgiu em seu lugar novas formas paliativas de cobrir o vazio existencial deixado pela morte de Deus e o declínio da religião formalizada. Dentro de tal perspectiva e contexto, a teoria analítica da individuação deve ser pensada de forma bastante cuidadosa, pois facilmente tem sido encaixada em tal lógica de pensamento por muitos que se dizem comprometidos com a prática junguiana. A obra de Jung é tomada como religiosa pelos que parecem nunca tê-la lido além da Wikipédia, e não falo apenas de leigos, mas de profissionais. Mesmo os que lêem parecem muitas vezes quererem encontrar em Jung o que ele não disse, sobretudo para sustentarem determinadas visões de mundo, que por vezes contribuem muito mais para a enfermidade que para a saúde do indivíduo, por venderem noções idiotizadas do desenvolvimento psíquico. 

Em uma era marcada pela liquidez, no sentido baumaniano da palavra, pela falta de segurança em quase todos os níveis da vida, faz sentido ainda pensarmos na possibilidade real de individuação como proposta por Jung, na totalidade psíquica e no self? Seria algo viável atualmente? A psicanálise moderna, e mesmo a clássica, freudiana, em relação a esse aspecto específico, me parecem muito mais críticas e perceptivas do que muitos junguianos. Falta o elemento terra e sobram os elementos água e ar na Psicologia Analítica atual, embora não possamos falar em “uma psicologia analítica atual” de forma inequívoca, pois cada um interage de forma diversa com a teoria, o que não quer dizer, obviamente, que todo e qualquer disparate deva ser permitido. Há profissionais comprometidos seriamente com sua posição, mas há outros que simplesmente não passam de imbecis letrados. Advogam visões românticas de mundo e trabalham na direção de oferecer ópios modernos para o tratamento do mal-estar da humanidade. O analista pode cair nas teias das ficções de desenvolvimento e encarnar o papel, na fantasia do analisando e na sua própria, de certo ideal de ser humano potencialmente realizado. Aquele que se dispõe a ajudar no processo de individuação está basicamente orientado por uma crença de que também está seguindo o mesmo processo e, quem sabe, esteja em níveis mais avançados de individuação. Há como um processo feito em tais termos colaborar para uma verdadeira relação entre iguais ou favorece o endeusamento do analista enquanto protótipo da auto-realização? “Quer se trate da compreensão de um ser humano ou do conhecimento de mim mesmo, devo abandonar, em ambos os casos, todos os pressupostos teóricos.” (JUNG). São problemas conhecidos há muito pela Psicologia e que são ainda atuais para nossa discussão. 

A sociedade de consumo produz mercadorias para serem consumidas rapidamente, apelando para seu fetiche, como nos dizia Marx, desde que se pague por isso. A psicologia não está isenta dessa lógica do mercado, estamos inseridos em um contexto econômico que funciona orientado pelo lucro. Ela é um produto ofertado como outro qualquer, mas é um serviço que pode ter sérias implicações ideológicas, como nos aponta Foucault e alguns autores da Psicologia Social. Quando se coloca a individuação como possibilidade para quem deseja passar pela análise, mesmo que isso seja feito de forma indireta e subliminar (ou nem tanto), o que normalmente fica no ar é a sensação de que um marketing psicológico está sendo feito. O pior, em minha opinião, não é a atitude em si de alguns psicólogos, que também é preocupante, mas minha preocupação principal é a possibilidade de se criar ansiedades e desejos excessivos pela individuação, tanto da parte de quem é analisado, principalmente, e de quem se relaciona profissionalmente com a teoria. É como estar no deserto e alguém nos oferecer água, mas nada garante que a água irá matar a sede. Ao contrário de alguns que afirmam dizer não ver isso acontecer no dia-a-dia, nem no meio junguiano, desde o tempo em que criei e administro a página Carl Jung Sincero e a Biblioteca Junguiana, além de acompanhar outras páginas e grupos, não restam dúvidas de quanto são comuns tais situações pouco inspiradoras. Uma “promessa inocente” feita em tais termos, atualmente, é uma atitude perversa para com os analisandos, que muitas vezes estão contaminados pela espiritualidade-pop e pela idéia de que são seres demasiadamente especiais, com uma missão pessoal importante. Não são senão para eles mesmos, quando deveriam ser também para a comunidade, como Jung afirma. O mundo de hoje requer, felizmente ou infelizmente, uma postura mais realista diante de seus desafios, sem dúvida não se trata de se render ao atual estado de coisas, mas de encará-lo de forma mais, ironicamente, heróica ou arquetípica. Observando que há um modelo de herói apregoado nas mídias que não passa da encarnação de todo individualismo e narcisismo cultuados atualmente, a sombra do herói que nos é conhecido na Psicologia Analítica. A individuação é viável em minha opinião, mas de qual individuação falamos? 

A individuação proposta por Jung é uma individuação baseada, sobretudo, no instrospectivismo, em fatores como sonhos, arquétipos, sincronicidades, intuições etc. Não é inexistente o caráter social em suas idéias, mas aparecem como secundários. 

“Como ser social, o homem não pode permanecer desligado da sociedade por muito tempo. Por isso o indivíduo só pode encontrar o seu direito de existência e sua autonomia, tanto moral como espiritual, num princípio extramundano, capaz de relativizar a influência extremamente dominadora dos fatores externos.” Jung aponta para o social, mas tem prevalecido o aspecto individual em muitos de seus continuadores. De onde surgem minhas suspeitas de que, de determinada forma, a teoria de Jung PODE, dependendo de quem a interpreta e aplica, provocar doses consideráveis de alienação sobre si mesmo e também a perda do contato com a realidade social abrangente. O modelo de individuação que Jung trabalha, e que permeia sua obra, é a individuação típica de um tipo altamente introvertido, como o dele, o que se evidencia mais claramente nos estados, considerados psicóticos por alguns, expressos no Livro Vermelho (e outros). Outros entendem como experiências de cunho religioso nos moldes gnósticos. No entanto, quem diz sobre ser sintomática de uma psicose a produção do Livro Vermelho é o próprio Jung, que afirma que o livro o protegeu de sucumbir a uma psicose grave. Alguns querem contrariar o que o próprio Jung disse sobre si mesmo, daí ser extremamente difícil discutir com aqueles que fazem da psicologia analítica uma espécie de religião. A individuação tornou-se para eles um ideal cobiçado. 

"Duvido da possibilidade de expor adequadamente as mudanças que se verificam no sujeito sob o influxo do processo de individuação, pois se trata de uma ocorrência mais ou menos rara, só experimentada por aqueles que passaram pelo confronto — fastidioso, mas indispensável para a integração do inconsciente — com as componentes inconscientes da personalidade. Quando as partes inconscientes da personalidade se tornam conscientes, produz-se não só uma assimilação delas à personalidade do ego, anteriormente existente, como sobretudo uma transformação desta última. A grande dificuldade está justamente em descrever a maneira como se dá esta transformação. De modo geral, o ego é um complexo fortemente estruturado que, por estar fortemente ligado à consciência e à sua continuidade, não pode nem deve ser facilmente alterado, sob pena de enfrentar sérias perturbações patológicas. As analogias mais próximas de uma alteração do ego se encontram, com efeito, no campo da psicopatologia, onde nos deparamos não somente com dissociações neuróticas mas também com a fragmentação esquizofrênica e até mesmo com a dissolução do ego. Neste domínio também observamos tentativas de integração patológica — se me permitem esta expressão. Esta integração consiste em irrupções mais ou menos violentas de conteúdos inconscientes na consciência, mostrando-se o ego incapaz de assimilar os intrusos. Se, porém, a estrutura do complexo do ego é bastante forte para resistir ao assalto dos conteúdos inconscientes, sem que se afrouxe desastrosamente sua contextura, a assimilação pode ocorrer." (Jung) 

Voltando ao centro da discussão de alguns parágrafos anteriores, a “individuação junguiana” parece vir se casar com o espírito arquetípico narcisista que impera na psique coletiva. Quando digo “individuação junguiana” refiro-me a forma como ela vem sendo compreendida por muitos. É uma linha sutil a diferença sobre a qual me refiro e que requer certa atenção. 

Jung diz também que a individuação se daria em relação com o social, mas de qual social estamos falando hoje? O social favorece ou prejudica a individuação? O nosso, sem duvida, é um entrave contra o qual devemos nos posicionar. 

A individuação como meta para se atingir a chamada totalidade psíquica parece soar anacrônica e ultrapassada para os dias atuais, na medida em que o atual sistema social é refratário a noções como essa, que teoricamente levaria a uma maior autonomia, real, não ilusória, embora o sistema pareça acolhe - lá ao supostamente dar ênfase sobre o individual. O individual em Jung não é o individual do capitalismo. A Psicologia Analítica tem-se tornado vitima desse discurso e acreditado estar colaborando para a emancipação humana, no entanto “só pode haver emancipação real das amarras vitimizantes do inconsciente se o indivíduo toma para si a liberdade para si em relação à liberdade e responsabilidade para com o outro. Como seres sociais, somos exortados a tomar uma atitude em relação ao cosmos, que dizer, em relação à uma percepção e ação sobre a realidade de todas as coisas (Natureza, Sociedade, Família etc.). Não existe emancipação de um indivíduo se não ela não é promovida em sua sociedade também. E se "individuar-se" é tomar contato e compor um arranjo sincero das disposições psíquicas pessoais, também uma sociedade deve trazer esses ideias de autoconstrução, no sentido de que somos dotados de um fator espécie que nos relaciona uns com os outros (JD Lucas) 

Há “certos modelos” acriticamente difundidos de individuação no meio junguiano que são verdadeiramente preocupantes, com palavras e expressões realmente atrativas: integração psíquica, totalidade, desenvolvimento pessoal, self auto-organizador da psique, onde há a supervalorização do aspecto subjetivo, dos arquétipos, dos sonhos etc. No entanto, se pensarmos de um ângulo mais cético a questão, há certo esvaziamento de sentido quanto aos termos “individuação e totalidade” nos dias atuais, ao menos pela forma como a teoria interage com meu modo de experiência no mundo. Dificilmente alguém se individuará enquanto estiver profundamente mergulhado na matrix social. Não que seja impossível, mas a individuação e o self não deveriam ser focados com tanta expectativa e ansiedade. 

Não quero fazer de minha opinião uma verdade, muito menos tentar convencer alguém de que estou com a razão (estar com a razão não é uma expressão muito apropriada para um junguiano). Aposto com a possibilidade de individuação, embora não conheça ninguém individuado, mas não concordo com o lugar central que alguns a colocam, muito menos como uma meta a ser buscada. Ainda menos com o que alguns têm chamado de individuação, que não passa de uma eterna masturbação intelectual causadora de angústia por jamais se atingir o “gozo final”. Alguns falam em INDIVIDUAÇÃO, eu defendo a individuação modesta e com os pés na realidade, e não no éter cósmico, na Suíça rural, na torre junguiana, nas paisagens gnósticas internas ou à beira de um belo lago em Zurique. 

“O perigo de um envolvimento intenso com o mundo e suas imagens fascinantes é que ele pode acarretar uma preocupação narcisista. Outro perigo seria considerar todas as manifestações, inclusive atividades anti-sociais e mesmo colapsos psicóticos, como resultados justificáveis de um processo de individuação.” (Samuels) 

Falta um pouco de ceticismo teórico e sobram promessas de auto-realização, mesmo que tais promessas sejam feitas indiretamente, no nível subliminar e não diretamente. O que cativa facilmente a fantasia de pessoas interessadas em fazer análise e que já ouviram sobre as “maravilhas da individuação” (objeto de desejo da ostentação junguiana). No entanto, é possível perceber o quanto isso ocorre com freqüência e não considero infundadas ou levianas as minhas críticas. 

Há também um mal disfarçado fanatismo em relação a Jung, extremamente irritante, onde qualquer palavra do mesmo adquire ares de sapiência, mesmo quando é inflada egoicamente, ingênua ou mesmo corriqueira e descuidada. O que considero como sintomático da necessidade de se orientar na vida pós-moderna através de um mentor, de ter uma referência de como “ser melhor ou realizado”. Defendo profissionalmente e pessoalmente o direito, apesar de ser uma situação imperativa e não de escolha, de Jung ser um ser humano comum e não um messias, um individuado que sirva de modelo para a humanidade ou para mim. Caso duvidem do que digo ou julguem como exagero, peço que observem com mais atenção os comentários feitos em milhares de posts da internet com trechos de Jung. Fora aqueles que possuem pouco conhecimento de Jung e fazem no máximo tomar partido para o lado que mais favoreça sua visão reduzida da questão. 

O Livro Vermelho, sobre o qual teci alguns comentários provocativos na referida página acima, é, sem dúvida uma obra bastante interessante para a psicologia e tem seu valor inegável para a Psicologia Analítica, mas não é uma escritura sagrada que está acima das críticas e mesmo de meras ironias quanto ao seu conteúdo. Alguns se sentiram ofendidos, “não se pode brincar com coisa séria”. Por favor, deixemos de fanatismo. De forma alguma pretendo denegrir o trabalho de Jung, pelo contrário, meu objetivo é apontar as incoerências do meio junguiano que se sustenta supostamente em suas idéias. O Livro Vermelho não é um manual de como se fazer a individuação, mas é apenas o relato de como foi o que alguns chamam de a individuação de Jung. De JUNG! 

Deixemos o próprio Jung falar por um momento: “Acreditai-me: não é nenhuma doutrina nem alguma instrução que vos dou, donde haveria de buscar para querer instruir-vos? Eu vos informo o caminho dessa pessoa, seu caminho, mas não o vosso caminho. Meu Caminho não é o vosso caminho, portanto/ não vo-lo ensinar. O caminho está em nós, mas não em deuses, nem em doutrinas, nem em leis. Em nós esta o caminho, a verdade e a vida. Ai daqueles que vivem segundo exemplos! A vida não está com eles. Se viveis segundo um exemplo, viveis então a vida do exemplo, mas quem deve viver a nossa vida a não ser nós mesmos? portanto vivei a vós mesmos. Minha língua seque se eu vos apresentar lei, se vos engabelar com doutrinas. Quem procura isso sairá com fome de minha mesa.” Um trecho do Livro Vermelho que ilustra “o quanto” Jung queria seguidores e fãs que o copiassem e o fizesse um líder. 

Minha admiração pela obra de Jung é a de quem percebe a sua riqueza e valor teórico para se compreender o psíquico e o humano. Considero seu trabalho de uma grandeza intelectual admirável, pouco vista em outros autores, mas infelizmente a admiração intelectual se converte em veneração religiosa quando há nos espíritos a ansiedade por mestres, gurus e salvadores. Procuro não nutrir tais sentimentos, pois não tenho esse tipo de vocação religiosa. Jung não produziu uma doutrina soteriológica, ou seja, uma doutrina de salvação humana, mas uma teoria psicológica. Há um abismo aqui. 

Quando Jung sair do lugar que ocupa na fantasia de muitos junguianitas, será possível ter uma relação saudável com sua teoria e não uma relação de mestre-sabedoria-discípulo. É justamente sobre tais fatos observados que tenho levantado algumas provocações e críticas, nem sempre bem compreendidas, na página que administro no facebook, chamada Carl Jung Sincero, que segue na contramão de boa parte de outras páginas, embora haja exceções, que apenas reproduzem trechos de Jung de forma mecânica (páginas que inclusive sigo e admiro, mas questiono quanto ao caráter aparentemente acrítico). Dessa forma, tenho sido alvo de críticas infundadas e apaixonadas enquanto suposto deturpador da obra de Jung. Tiro várias horas por semana para fazer escárnio da obra de Jung? Obviamente não criei a página para atender a esse objetivo. Se algumas críticas pareceram sem propósito ou mesmo antiquadas, o presente texto visa esclarecer, na medida do possível, nossa “filosofia”. Gostaria que os críticos avaliassem melhor a questão na busca de compreender minhas razões. O que posso fazer no momento é me defender das acusações e advertir do quanto alguns têm sido maus julgadores do trabalho alheio. 

Há leitores de Jung como há leitores de Machado de Assis, Freud, Camões, gibis da Mônica, Playboy etc. Não são psicólogos ou mesmo estudantes de psicologia, apenas admiram sua obra e, via de regra, usam para suas próprias vidas pessoais. Sendo Jung tomado como uma espécie de mentor ou inspiração para cada um. No meu caso, e também de muitos outros , a questão que nos aflige vai muito além do gosto pessoal por Jung e sua obra, permanecendo nossas preocupações atreladas diretamente à dimensão ética da profissão de psicólogo ou analista. Os leitores leigos de Jung podem fazer dele um guia para sua vida pessoal, a escolha é de cada um e não há nada de errado nisso, no entanto, saibam que estamos nos posicionando de um lugar diferente do lugar de onde vocês emitem seus discursos. A questão se apresenta menos complexa para você por não envolver diretamente a vida e saúde psíquica de outras pessoas, que podem ser afetados positiva ou negativamente por suas práticas e crenças pessoais. Tendo sérias implicações, não facilmente negligenciadas. 

O self, conceito usado como carta-coringa e explicativa de muitos processos psíquicos, adquire para mim, e penso estar de acordo com Jung, o sentido de ser a parte saudável da psique, ou ao menos a possibilidade que ela tem de se organizar internamente e “curar a si mesma”. O corpo humano possui suas defesas inatas do sistema, como as celulares, que evidenciam que há um saber inato impresso no próprio corpo e que busca certa forma de organização saudável ou homeostática. A psique coletiva anda adoecida em níveis preocupantes, o self ainda é um conceito “atual” e de importância teórica, mas não é a forma literal de uma divindade interna que sempre orienta para o desenvolvimento, para a totalidade, pois pod provocar inúmeros problemas ao individuo, da mesma forma que as defesas naturais do corpo podem prejudicar a saúde por excesso de zelo. Recomendo o livro: “O mundo interior do trauma. Defesas arquetípicas do espírito pessoal”, onde o autor também aponta o mesmo. Se Deus está morto, o Self seria a sua encarnação em versão particular para alguns. É problemático colocar luzes excessivas sobre o self em tempos de egoísmo narcisista, pois o fascínio exercido por tal arquétipo não nos é de todo desconhecido. Causa inflação egoica. O culto do self enquanto arquétipo da totalidade é tentador, nos leva a agir a “semelhança de Deus”, como Jung analisa no caso do Zaratrusta. 

O anacronismo teórico de Jung ao qual me refiro versa, não sobre ser a psicologia analítica uma abordagem superada e caduca, mas ela torna-se anacrônica, ou seja, “que não se adequa aos usos ou aos hábitos característicos de uma determinada época”, quando o sistema atual não lhe permite resultados mais evidentes e não permite sua plena aplicação. É preciso alguma acomodação teórica e os pés no chão para que a Psicologia Analítica se sustente firmemente sem se alienar, como qualquer outra teoria. Por isso digo que a Psicologia Analítica é detentora de um anacronismo teórico extremamente atual. A individuação que alguns afirmam ter feito, como se fosse possível concluí-la, é apenas a confirmação da ideologia alienante que permeia o corpo social, não uma individuação que poderíamos considerar genuína. A individuação proposta em tal formato leva ao estado autista da alma, fechada sobre si mesma ou mergulhada em fantasias equivocadas de autoconhecimento. Jung diz que em tais situações “a pessoa se defronta com pretensões ilusórias sobre a suposta presença de qualidades que apenas servem para encobrir os verdadeiros fatos.” (Jung). 

Antes de pensarmos seriamente em individuação deveríamos pensar na sociedade pós-moderna e sua complexidade, no problema da violência, na fragmentação do sujeito, para assim compreendermos minimamente os processos históricos que formaram a nossa cultura, que de certa forma reflete uma frustração do ideário iluminista que apostava que a razão resolveria todos os problemas do homem e a ciência reinaria soberana contra a “superstição religiosa e mística”, onde a psicologia analítica pode ganhar um espaço respeitável ao invés de fazer coro ao mundo deturpado da neo, quem sabe pseudo, espiritualidade. Pela primeira vez na história podemos falar de uma “religião pessoal”, o que deve ser entendido também como um movimento de possibilidades criativas, mas é preciso muita atenção para que se mantenha em uma direção construtiva e que não se confunda com a Psicologia Analítica. O culto do individuo levou-o a perder contanto consigo mesmo, sendo permeado por um mundo de imagens, discursos, produtos, que pouco têm a ver com o autoconhecimento, e dessa forma tornou-se cativo, para usar uma expressão de Guy Debord, da Sociedade do Espetáculo. A individuação não é uma promessa que se venda ou da qual se faça propaganda, o nome disso é charlatanismo, dos mais sutis e perniciosos. É preciso que o sistema se altere profundamente, com a mudança real dos indivíduos inclusive, para falarmos com segurança em individuação ou teremos um número considerável de megalomaníacos e trapaceiros atuando em cada consultório, congressos e institutos de formação em nome da psicologia junguiana. 

A riqueza teórica de Jung infelizmente está comprometida devido ao mau uso que se tem feito dela. Muitos estão agindo inconscientemente, acreditando estarem de acordo com suas posições éticas mais elevadas. Não quero denegrir a imagem de nenhum adepto da teoria, mas infelizmente estão profundamente iludidos, acreditando em um ideal de homem distante do “homem real” (levando em conta as ambigüidades da expressão). Outros agem de fato por pura má fé, os que são detestáveis em qualquer contexto humano. 

A necessidade de uma integração psíquica, tão comentada no meio junguiano, é urgente, verdade, por isso ser Jung um autor bastante atual, mas nem por isso irá ser feita se sustentando em ficções e devaneios pouco realistas. Os mais otimistas conseguem ver um futuro onde isso será possível em níveis maiores, outros são mais pessimistas. Prefiro aguardar de forma um pouco cética os destinos da humanidade e da psicologia analítica, mas reforço que é preciso certa atitude mental diversa da que temos usados atualmente, ou não iremos resistir. É preciso certa política de redução de danos ao invés da busca frenética de individuação. 

Em tempos de insegurança global não devemos nos atrever a oferecer qualquer serviço que vise dar conta do mal-estar na civilização, embora eu saiba que nem todos agem diretamente dessa maneira. Jung, sem dúvida alguma, será um autor melhor compreendido e valorizado, inclusive pela academia. No entanto, se continuarmos a agir como detentores de soluções e conhecimentos especiais, nos restarão apenas o escárnio e zombaria como resultado de tais pretensões tolas. 

Finalizo com uma citação de Jung: 

“O campo amplo e vasto do inconsciente, não alcançado pela crítica e pelo controle da consciência, acha-se aberto e desprotegido para receber todas as influências e infecções psíquicas possíveis. Como sempre acontece quando nos vemos numa situação de perigo, nós só podemos nos proteger das contaminações psíquicas quando ficamos sabendo o que nos está atacando, como, onde e quando isso se dá.” (Carl Jung- Presente e Futuro) 


ALGUMAS REFERÊNCIAS: 

- A ERA DOS EXTREMOS: o Breve Século XX: 1914 - 1991 - Eric Hobsbawm 
- A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO – Guy Debord 
- AMOR LÍQUIDO – Zygmunt Bauman 
- O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO – Sigmund Freud 
- O FUTURO DE UMA ILUSÃO – Sigmund Freud 
- VIVENDO A SOCIEDADE ALTERNATIVA: Raul Seixas no panorama da contracultura jovem – Luiz Boscato 
- DICIONÁRIO CRÍTICO DE ANÁLISE JUNGUIANA – Andrew Samuels 
- DIVERSOS TEXTOS DE JUNG

3 comentários:

Anônimo disse...

gostei muito bom mas falta falar que ele foi um psiconauta ou que andou pelo caminho do xaman que abre a mente a toda uma nova realidade falta essa parte para entender o que ele diz.

Unknown disse...

Me identifiquei na luta contra os profetas junguianos. Amei tudo que você escreveu e sempre fico muito feliz em ver junguianos que compreendem que Jung se dedicou e escreveu uma teoria psicológica e não uma doutrina religiosa.
No entanto, o impacto que Jung causa com tais teorias que foram feitas a partir de seu trabalho com o núcleo psicótico, atrai identificações psicóticas e com elas a doutrina religiosa. Parabéns pelo texto e pelo seu admirável trabalho que sigo e percebo a dificuldade de entendimento na grande maioria dos comentários. Abraço.

Unknown disse...

Gostei muito da aplicação da crítica, principalmente, relacionada as ideias mais popularizadas do conceito Junguiano, hoje mais ligadas as demonstrações intelectuais vaidosas do que as posições mais conceituais dos ensinamentos profundos do seu autor. Jung, não rompeu com Freud apenas para valorizar uma ideia qualquer ou por simples vaidade, mas sim o que continua em sua essência, difícil ainda nos tempos de hoje assimilá-las aos conceitos válidos por seu pensamento...