Apesar das qualidades geralmente benevolentes dos estados positivos, há duas áreas de dificuldades que podem surgir quando as pessoas têm experiências místicas: dificuldade para aceitar ou lidar com as áreas transcendentais, e problemas quando as experiências se relacionam com o meio ambiente. Além disso, muitas vezes essas áreas se confundem.
Problemas interiores
Muita gente se sente despreparada para as diretrizes das esferas sagradas. Estes são fatos e estados mentais desconhecidos, que permitem às pessoas penetrar na própria consciência, o que geralmente significa abandonar os conceitos já conhecidos sobre a realidade. Elas também podem sentir que não são suficientemente fortes para suportar o profundo impacto das manifestações físicas e sensoriais de experiências místicas, ou que não estão suficientemente abertas para manipular o seu poder. O professor espiritualista americano Ram Dass compara essas pessoas a uma "torradeira", e sua reação a "ligar o seu plugue em 220 volts em vez de 110, enquanto tudo torra". Recebendo esse enorme insumo físico, mental, emocional e espiritual, elas podem se sentir dominadas e uma reação natural talvez seja a de recuar.Uma resposta semelhante pode ocorrer durante uma forte experiência de luminosidade. Às vezes as pessoas sentem que sua visão está bastante fraca ou demasiado obscurecida para lidar com a intensidade da luz ofuscante com medo de ficar literalmente cegas se permitirem que a experiência prossiga.
Quando isso acontece, podem sentir muita dor física ao redor dos olhos.Um praticante de meditação relembra o horror que sentiu durante um estado transpessoal "positivo": "Foi muito estranho... Eu havia lido sobre a experiência a luz em livros sobre espiritualidade e só tinha ouvido falar disso como sendo algo ligado à alegria. Eu ansiava por esse tipo de experiência há muito tempo, tentava várias formas de trabalho interior para chegar a isso. Mas, quando realmente aconteceu, fiquei horrorizado. Foi impressionante: era doloroso, terrível e maravilhoso ao mesmo tempo. Senti como se tudo aquilo fosse demais e que eu não o poderia suportar. Pensei em Moisés e na sarça ardente, que era tão brilhante que ele teve que se afastar. Reconheci, desamparado, que eu não seria capaz de compreender o que acontecia."Embora o sofrimento que acontece durante um encontro místico possa ser sentido como destrutivo e violento no início, com o tempo as pessoas em geral o reconhecem como a dor da abertura e do crescimento espiritual. Elas chegam até a receber isso como um sinal da sua ligação com o Divino, como descreve Santa Teresa de Ávila:A dor era tão aguda que eu gemia, mas o encanto dessa tremenda dor era tão poderoso que não se poderia querer abandoná-la, nem a alma se satisfaria com nada mais a não ser com Deus. Era uma dor espiritual, não física, embora o corpo tivesse alguma parte nisso, até que considerável. Era uma troca de cortesias entre a alma e Deus.A experiência da desintegração positiva do ego, descrita acima, também pode apresentar problemas. Enquanto algumas pessoas aceitam de bom grado a oportunidade de se liberar e de se expandir, outras estão muito ligadas às suas identidades individuais, e se esse momento crítico for muito assustador, elas poderão tentar resistir ou brigar devido a isso. Embora esse estado de perda do ego seja transitório, as pessoas que estão passando por ele sentem que esse processo é permanente. Aprisionadas entre o que conhecem de si próprias como são e em quem estão se transformando, podem se perguntar: "Quem sou eu? Onde isto está me levando? Como posso ter confiança no que está acontecendo?"Algumas pessoas podem não confiar na realidade de suas novas possibilidades, ou podem ter medo de que os estados que estão sendo vivenciados sejam sinais de doença mental. Elas sentem que estão se desviando muito do comum. Chegam até a temer que depois de entrar em contato com o Divino tenham mudado tanto que as pessoas do seu convívio compreenderão imediatamente que elas estão "diferentes", e pensarão que são especiais ou loucas.Outras podem lutar com as áreas transcendentais, não importando quão belas serenas elas sejam, porque não sentem o valor da experiência. Conhecemos várias pessoas com problemas permanentes de auto-imagem que se sentem desmerecedoras de qualquer experiência que seja muito agradável ou muito próspera. Em geral, quanto mais benevolente for o seu estado espiritual, mais ativamente tentarão resistir a ele.Algumas pessoas ficam deprimidas depois de entrar em contato com as áreas transcendentais, porque sua vida diária parece árida e desinteressante, em comparação com a radiação e a liberação que experimentaram. Um terapeuta escreveu sobre a volta às limitações do corpo físico depois de uma experiência mística:Naquele estado iluminado eu me senti completamente sem limites e livre, rodeado e repleto de uma luz brilhante, banhado por uma enorme sensação de paz. Quando comecei a voltar ao mundo cotidiano, senti que meu novo "Eu" abrangente estava se afunilando, voltando a ser uma unidade retraída: o meu "Eu" físico cotidiano. Meu corpo se sentia como uma armadilha de aço que prendia e dominava todas as minhas possibilidades. Senti a dor e o drama da vida diária começando a me pressionar, e chorei quando ansiei por voltar para a liberdade que havia descoberto.Algumas pessoas nessa situação podem realmente querer permanecer num estado prazeroso, excluindo suas responsabilidades diárias. Ou podem preferir repetir a experiência pela qual estão passando, em vez de aproveitar a possibilidade de vivenciar outros estágios de sua jornada espiritual que, mesmo não sendo tão belos e extraordinários, são igualmente importantes. Como resultado, podem abster-se de colaborar para seu maior desenvolvimento pessoal, resistindo e até mesmo censurando tudo o que seja inferior ao estado místico positivo.
"Retirado de: A tempestuosa busca do Ser; de Stanislav e Christina Grof"
Quando isso acontece, podem sentir muita dor física ao redor dos olhos.Um praticante de meditação relembra o horror que sentiu durante um estado transpessoal "positivo": "Foi muito estranho... Eu havia lido sobre a experiência a luz em livros sobre espiritualidade e só tinha ouvido falar disso como sendo algo ligado à alegria. Eu ansiava por esse tipo de experiência há muito tempo, tentava várias formas de trabalho interior para chegar a isso. Mas, quando realmente aconteceu, fiquei horrorizado. Foi impressionante: era doloroso, terrível e maravilhoso ao mesmo tempo. Senti como se tudo aquilo fosse demais e que eu não o poderia suportar. Pensei em Moisés e na sarça ardente, que era tão brilhante que ele teve que se afastar. Reconheci, desamparado, que eu não seria capaz de compreender o que acontecia."Embora o sofrimento que acontece durante um encontro místico possa ser sentido como destrutivo e violento no início, com o tempo as pessoas em geral o reconhecem como a dor da abertura e do crescimento espiritual. Elas chegam até a receber isso como um sinal da sua ligação com o Divino, como descreve Santa Teresa de Ávila:A dor era tão aguda que eu gemia, mas o encanto dessa tremenda dor era tão poderoso que não se poderia querer abandoná-la, nem a alma se satisfaria com nada mais a não ser com Deus. Era uma dor espiritual, não física, embora o corpo tivesse alguma parte nisso, até que considerável. Era uma troca de cortesias entre a alma e Deus.A experiência da desintegração positiva do ego, descrita acima, também pode apresentar problemas. Enquanto algumas pessoas aceitam de bom grado a oportunidade de se liberar e de se expandir, outras estão muito ligadas às suas identidades individuais, e se esse momento crítico for muito assustador, elas poderão tentar resistir ou brigar devido a isso. Embora esse estado de perda do ego seja transitório, as pessoas que estão passando por ele sentem que esse processo é permanente. Aprisionadas entre o que conhecem de si próprias como são e em quem estão se transformando, podem se perguntar: "Quem sou eu? Onde isto está me levando? Como posso ter confiança no que está acontecendo?"Algumas pessoas podem não confiar na realidade de suas novas possibilidades, ou podem ter medo de que os estados que estão sendo vivenciados sejam sinais de doença mental. Elas sentem que estão se desviando muito do comum. Chegam até a temer que depois de entrar em contato com o Divino tenham mudado tanto que as pessoas do seu convívio compreenderão imediatamente que elas estão "diferentes", e pensarão que são especiais ou loucas.Outras podem lutar com as áreas transcendentais, não importando quão belas serenas elas sejam, porque não sentem o valor da experiência. Conhecemos várias pessoas com problemas permanentes de auto-imagem que se sentem desmerecedoras de qualquer experiência que seja muito agradável ou muito próspera. Em geral, quanto mais benevolente for o seu estado espiritual, mais ativamente tentarão resistir a ele.Algumas pessoas ficam deprimidas depois de entrar em contato com as áreas transcendentais, porque sua vida diária parece árida e desinteressante, em comparação com a radiação e a liberação que experimentaram. Um terapeuta escreveu sobre a volta às limitações do corpo físico depois de uma experiência mística:Naquele estado iluminado eu me senti completamente sem limites e livre, rodeado e repleto de uma luz brilhante, banhado por uma enorme sensação de paz. Quando comecei a voltar ao mundo cotidiano, senti que meu novo "Eu" abrangente estava se afunilando, voltando a ser uma unidade retraída: o meu "Eu" físico cotidiano. Meu corpo se sentia como uma armadilha de aço que prendia e dominava todas as minhas possibilidades. Senti a dor e o drama da vida diária começando a me pressionar, e chorei quando ansiei por voltar para a liberdade que havia descoberto.Algumas pessoas nessa situação podem realmente querer permanecer num estado prazeroso, excluindo suas responsabilidades diárias. Ou podem preferir repetir a experiência pela qual estão passando, em vez de aproveitar a possibilidade de vivenciar outros estágios de sua jornada espiritual que, mesmo não sendo tão belos e extraordinários, são igualmente importantes. Como resultado, podem abster-se de colaborar para seu maior desenvolvimento pessoal, resistindo e até mesmo censurando tudo o que seja inferior ao estado místico positivo.
"Retirado de: A tempestuosa busca do Ser; de Stanislav e Christina Grof"
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