Trecho de carta de C. G. Jung ao Dr. Richard Otto Preiswerk de 21/04/1947.
Prezado primo,
[...] A psicoterapia é uma coisa extraordinária: não se pode aprender de cor algumas receitas e então aplicá-las de forma mais ou menos adequada, mas só se pode curar a partir de um ponto central; e este consiste em entender o paciente como um todo psicológico e tratá-lo como um ser humano, deixando de lado ao máximo todas as teorias e ouvir atentamente tudo o que o doente tem a dizer. Naturalmente, um diálogo profundo e minucioso com ele pode operar maravilhas. É imprescindível que o psicoterapeuta tenha certo autoconhecimento, pois quem não compreende a si mesmo também não vai compreender o outro, e também não poderá agir psicoterapeuticamente se antes não se tiver tratado com o mesmo remédio. Caso contrário nunca saberá o que está fazendo. Não se chega a lugar nenhum com alguns conhecimentos gerais e banais de que a neurose consiste numa sexualidade reprimida ou coisas assim. Uma pessoa como B. não entende nada de psicoterapia. O psicoterapeuta tem de ser um filósofo no sentido tradicional da palavra. A filosofia antiga era um modo de ver o mundo, assim como a conduta humana.
Para as antigas autoridades da Igreja, o próprio cristianismo era uma espécie de sistema filosófico com um respectivo código de conduta. Havia sistemas filosóficos que visavam uma forma gratificante e feliz de vida. A psicoterapia significa algo assim. Ela deve levar em conta sempre a pessoa toda e não apenas órgãos, e por isso deve provir do médico como um todo.
Acredito que se você se aprofundar de alguma forma na minha linha de pensamento, sem considerá-la uma espécie de novo evangelho, aos poucos se abrirá para você uma luz sobre a natureza da psicoterapia. [...]
Com os melhores votos e saudações cordiais de seu
(Carl)
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