Trecho de carta de C. G. Jung enviada ao Padre Victor White em 21/05/1948.
Dear Victor,
[...] Seu ensaio levou-me a pensar: Será que eu tenho fé, uma fé ou nenhuma? Sempre fui incapaz de crer em alguma coisa, mas esforcei-me tanto que ao final não soube mais o que é a fé ou o que ela significa. Devo ao seu ensaio o fato de ter agora, aparentemente, uma resposta: Para mim, fé ou o equivalente de fé é o que eu chamaria de respeito. Eu tenho respeito pela verdade. Aparentemente este respeito se baseia num sentimento espontâneo de que existe algo que corresponde à verdade dogmática, algo que é indefinível em princípio. Tenho respeito por isso, mesmo que não o entenda. Mas posso dizer que o meu trabalho de toda uma vida é essencialmente uma tentativa de entender o que os outros aparentemente conseguem crer. Deve haver - assim concluo eu - uma força motivadora muito forte ligada à verdade cristã; caso contrário, não se explicaria o fato de ela me influenciar tanto. Mas note bem que meu respeito não é uma questão de decisão consciente, é um "dado" de natureza irracional. É o mais próximo que posso chegar daquilo que parece ser a "fé". Mas não há nada de especial nisso, pois sinto o mesmo tipo de respeito pelos ensinamentos básicos do budismo e pelas idéias fundamentais do taoísmo. No caso da verdade poder-se-ia explicar este respeito a priori por causa de minha formação cristã. Mas o mesmo não se pode dizer no caso do budismo, do taoísmo e de certos aspectos do islamismo [...].
Yours cordially,
C. G.
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