Texto de Luís Paulo B. Lopes
É como se tivéssemos que sacrificar os ideais mais elevados do homem civilizado, aos quais julgamo-nos eméritos representantes; aquelas virtudes coletivas que pensamos não somente possuir, mas que chegamos a confundir-nos com elas. Concordo com Jung quando afirma que a identificação com a persona é sempre um ato egoísta que tenta tirar alguma vantagem; já que através dela recebemos admiração, segurança, um lugar de valor no mundo. Com isso, ingressamos no paraíso da inconsciência; no alto de um platô sobre nuvens, onde não é possível ver o que há mais abaixo. Tentamos espremer o mundo para que caiba dentro de nossa própria cosmovisão e, assim, projetamos uma imagem do mundo como se este fosse imutável e previsível; ao mesmo tempo, supomos haver descoberto e encarnado o significado último de ser um homem civilizado. Protegidos da insegurança que anda de mãos dadas à eterna impermanência do fluir da vida através do tempo, evitamos cautelosamente a amarga consciência de estarmos perdidos em território misterioso e inexplorado. Livres dos conflitos morais que emergiriam implacáveis caso tivéssemos consciência de que o mal que combatemos no outro é o mal de nosso tempo, do qual estamos imersos até o pescoço. Acreditando cegamente que somos aceitos por inteiro, mesmo quando oferecemos ao mundo nossa face bela e ocultamos a terrível, e assim alienamo-nos da inexorável solidão inerente à condição humana e do abandono irrevogável que nos marca a todos no instante em que nascemos. Em suma, nos protegemos de quem realmente somos ao confundirmo-nos com o tributo que devemos pagar ao coletivo; perdemo-nos de nós mesmos num regozijo paradisíaco ao acreditarmos ser unicamente aquilo que o mundo espera que sejamos. Pois é este paraíso que devemos sacrificar a fim de nos encontrarmos com nós mesmos em nossa dolorosa ambiguidade; é como abrir os braços à dor que nos sustenta, mas da qual fugimos assustados sempre que espreita - a dor de ser. Embora experimentemos este sacrifício como autoimolação, fundamentalmente não se trata de negar a si próprio, mas de negar a sedução paradisíaca de ser inteiramente definido pelo mundo. Eis o paradoxo: ao oferecermo-nos em sacrifício, damos vida a quem somos.
É como se tivéssemos que sacrificar os ideais mais elevados do homem civilizado, aos quais julgamo-nos eméritos representantes; aquelas virtudes coletivas que pensamos não somente possuir, mas que chegamos a confundir-nos com elas. Concordo com Jung quando afirma que a identificação com a persona é sempre um ato egoísta que tenta tirar alguma vantagem; já que através dela recebemos admiração, segurança, um lugar de valor no mundo. Com isso, ingressamos no paraíso da inconsciência; no alto de um platô sobre nuvens, onde não é possível ver o que há mais abaixo. Tentamos espremer o mundo para que caiba dentro de nossa própria cosmovisão e, assim, projetamos uma imagem do mundo como se este fosse imutável e previsível; ao mesmo tempo, supomos haver descoberto e encarnado o significado último de ser um homem civilizado. Protegidos da insegurança que anda de mãos dadas à eterna impermanência do fluir da vida através do tempo, evitamos cautelosamente a amarga consciência de estarmos perdidos em território misterioso e inexplorado. Livres dos conflitos morais que emergiriam implacáveis caso tivéssemos consciência de que o mal que combatemos no outro é o mal de nosso tempo, do qual estamos imersos até o pescoço. Acreditando cegamente que somos aceitos por inteiro, mesmo quando oferecemos ao mundo nossa face bela e ocultamos a terrível, e assim alienamo-nos da inexorável solidão inerente à condição humana e do abandono irrevogável que nos marca a todos no instante em que nascemos. Em suma, nos protegemos de quem realmente somos ao confundirmo-nos com o tributo que devemos pagar ao coletivo; perdemo-nos de nós mesmos num regozijo paradisíaco ao acreditarmos ser unicamente aquilo que o mundo espera que sejamos. Pois é este paraíso que devemos sacrificar a fim de nos encontrarmos com nós mesmos em nossa dolorosa ambiguidade; é como abrir os braços à dor que nos sustenta, mas da qual fugimos assustados sempre que espreita - a dor de ser. Embora experimentemos este sacrifício como autoimolação, fundamentalmente não se trata de negar a si próprio, mas de negar a sedução paradisíaca de ser inteiramente definido pelo mundo. Eis o paradoxo: ao oferecermo-nos em sacrifício, damos vida a quem somos.
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