De acordo com a fantasia contemporânea de saúde, devemos nos tornar completos sendo a totalidade entendida no sentido de perfeição: "Seja perfeito..." O defeito mais insignificante, a menor disfunção deve ser curada, removida ou erradicada. Apesar de ter existido um tempo em que um temperamento melancólico era aceito, e até idealizado, hoje melancólicos são diagnosticados como "depressivos", são tranquilizados e medicados a ponto de se tornarem vegetais maravilhosamente contentes. No fundo todos somos conscientes de nossas falhas, nossas fraquezas, nossa invalidez. Ao mesmo tempo reprimimos essa compreensão de todas as maneiras possíveis. Lutamos interminavelmente, insensatamente para manter a ilusão de totalidade ao tentar alcançar a saúde perfeita.
Nossa cegueira quanto ao lugar e a importância do arquétipo do inválido torna-se uma atitude moralista, tendo como deuses máximos a saúde e a totalidade. Não é difícil imaginar o quão devastadora esta atitude é quando se trata daqueles que sofrem de neuroses e desordens psicossomáticas. Sou constantemente surpreendido por um tom de superioridade moral que desliza nas vozes dos psicoterapeutas quando discutem casos desta natureza. Neuróticos e psicossomáticos simplesmente são inferiores; eles não podem ser curados porque eles não o querem ser. Eles não querem mudar; eles não querem crescer. Eles recusam nossos esforços para sua melhora. Eles nem sequer escutam seus sonhos! Como afogados, eles agarram-se a suas resistências, defendendo-se, como vemos, tenazmente contra o terapeuta que está apenas tentando ajudá-los. Tais pessoas, tais pobres e ignorantes almas, merecem apenas nossa atenção quando abraçam nossa fantasia de crescimento/saúde/totalidade (é uma fantasia ou uma fixação ilusória?). Como terapeutas, apenas nos interessamos por eles quando eles querem ser curados.