Texto de C. G. Jung retirado do livro "Resposta a Jó"
Este acontecimento metafísico [a tendência divina a encarnar no homem empírico para nele se realizar] é conhecido pela psicologia do inconsciente como processo de individuação. Como, em geral, ele se tem realizado sempre de modo inconsciente, não pode ser entendido se não no sentido em que a glande se transforma em carvalho, o bezerro em boi e a criança em adulto. Mas, para que se tome consciência do processo de individuação, é preciso que a consciência seja confrontada com o inconsciente e se chegue a um equilíbrio entre os opostos. Como isso é logicamente impossível, necessitam-se de símbolos que sirvam para tornar visível a união irracional dos contrários. Estes símbolos são produzidos espontaneamente pelo inconsciente e ampliados pela consciência. Os símbolos centrais deste processo descrevem o si-mesmo [Self], isto é, a totalidade do homem, de um lado, por meio daquilo que lhe é consciente e, de outro, por meio do conteúdo inconsciente. O si-mesmo é o homem completo, cujos símbolos são o menino divino ou seus sinônimos. Este processo que aqui esboçamos apenas sumariamente pode ser pode ser observado no homem moderno, ou podemos lê-lo nos documentos da filosofia hermética medieval que versam sobre ele; quando se conhece tanto a psicologia do inconsciente quanto a alquimia, fica-se espantado com o paralelismo dos respectivos símbolos.
É grande a diferença que medeia entre o processo natural de diferenciação que transcorre de modo inconsciente, e o processo de individuação que se torna consciente. No primeiro caso, a consciência não intervém de modo algum. Por isto o seu final é tão obscuro quanto o seu começo. No segundo caso, porém, são tantos elementos obscuros que vêm à luz, que a personalidade é como que radiografada, ao mesmo tempo que a consciência ganha infalivelmente em amplidão e percepção. A confrontação entre a consciência e o inconsciente faz com que a luz brilhe nas trevas, e não somente seja compreendida pelas trevas, como também as compreenda. O filius solis et lunae [filho do sol e da lua] é, a um só tempo, símbolo e possibilidade de união dos contrários. É o A e o Ω do processo, o Mediador e o Intermedius. "Habet mille nomina" (tem mil nomes), dizem os alquimistas, indicando, com isto, que a causa de onde decorre o processo de individuação e para qual este processo tende é um ineffabile [inefável] sem nome.