Texto retirado do livro "O que podemos vir a ser" de Piero Ferrucci. Introdução ao capítulo intitulado "A patologia do sublime - Riscos e distorções na exploração do supraconsciente".
Por estranho que possa parecer, quando a inspiração transpessoal começa a se fazer sentir, a personalidade às vezes encontra maneiras de neutralizá-la. O reino da personalidade tem suas própria leis, metas e modos de funcionamento. Em muitos casos, o irromper da energia transpessoal causa uma expansão e uma transformação que são sentidas como benéficas e prazerosas. Em outros, porém, o impacto revolucionário do influxo de novas energias no quadro preexistente pode ser sentido como uma ameaça desconfortável.
Mesmo carregadas de um forte sentido de correção, as inspirações transpessoais têm a necessidade de que a personalidade como um todo se rearranje para ajustar-se aos objetivos e leis do Self. Neste caso, os velhos hábitos devem ser abandonados, os bloqueios psicológicos corajosamente encarados; novas e maiores responsabilidades devem ser assumidas e um ritmo não familiar deve ser adotado - em outras palavras, uma série de grandes mudanças põe-se a caminho.
As mudanças provocadas pela inspiração supraconsciente constituem, é claro, a consequência natural do desenvolvimento geral de uma pessoa. Mais cedo ou mais tarde, a crisálida torna-se borboleta; mas a crisálida pode de alguma forma lutar contra o processo de mudança. Crescer é compreender aquilo que não fomos capazes de conceber, sentir o que nunca sentimos, fazer o que nunca fizemos antes. É ousar o que nunca ousamos. Pode não ser, portanto, necessariamente prazeroso. Obriga-nos a abandonar nossa zona de conforto, a progredir em direção ao desconhecido, a encarar a formidável presença do Self.
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