Texto de Luís Paulo B. Lopes
Há inúmeros debates na contemporaneidade envolvendo a questão do gênero sexual. O que é ser homem? O que é ser mulher? Há algo de fato que determine o que é ser homem ou mulher? Seria isso determinado pela biologia? Ou o gênero é uma construção unicamente cultural? Que tipos de atravessamentos psicológicos estão envolvidos na questão da delimitação do gênero sexual? Essa é uma questão atual, mas não tão atual assim. Ainda na era da revolução industrial, com a necessidade de mão de obra para trabalhar em fábricas gigantescas, as mulheres foram convocadas a abandonar aquilo que a sociedade considerava próprio do gênero feminino para entrar no mundo masculino do mercado de trabalho. Talvez esse tenha sido o primeiro movimento feminista massivo e essas mulheres certamente não saíram impunes por transgredir uma norma social cristalizada. O feminismo enquanto ideologia, posteriormente, iria se aprofundar no questionamento do lugar da mulher na sociedade, gerando mudanças profundas em como a sociedade entende o que é ser mulher e, portanto, o que é permitido para a mulher. O movimento LGBT (ou LGBTTT) deu novo coro ao debate de gênero, com questões relativas à orientação sexual e principalmente sobre identidade de gênero. Tenho notado que esses debates atuais normalmente são inflamados, onde revolucionários tentam derrubar os sólidos muros do status quo por um lado, enquanto que outros tentam defender com todas as forças aquilo que acreditam ser fundamental para a saúde e o bom funcionamento da sociedade. A inflamação dos discursos, que chega às vias da ofensa, da agressão, de prisões e da morte, repousa no antagonismo arquetípico Senex vs. Puer; e lembram as guerras santas. Não estou na posição de defender quaisquer destas ideologias. Minha intenção é observar as implicações psicológicas massivas que esse processo de mudança social está trazendo. Ocorreram muitas mudanças sociais importantes envolvendo o lugar da mulher na sociedade, muitas ainda estão acontecendo e muitas ainda vão acontecer. Com mudanças sociais tão profundas não poderíamos esperar que os indivíduos saíssem imunes. As consequências destas mudanças começam então a inundar os consultórios dos psicólogos.