quarta-feira, 11 de março de 2009

Desafios conceituais à ciência - Stanislav Grof


Durante toda a história da ciência moderna, gerações de pesquisadores buscaram com grande entusiasmo e determinação os vários grandes caminhos de pesquisa oferecidos pelo paradigma newtoniano-cartesiano descartando prontamente conceitos e observações que teriam questionado algumas das premissas filosóficas básicas partilhadas pela comunidade científica. Muitos cientistas foram tão inteiramente programados por sua educação ou tão arrebatados e impressionados pelo seu uso pragmático, que aceitaram aquele modelo, de maneira literal, como uma descrição exaustiva e correta da realidade. Nessa atmosfera, incontáveis observações de vários campos foram sistematicamente descartadas, suprimidas ou mesmo ridicularizadas, com base em sua incompatibilidade com o pensamento reducionista e mecanicista que, para muitos, tornou-se sinônimo de um enfoque científico. (...)


As extraordinárias conquistas técnicas dessa ciência têm produzido um efeito negativo, apesar de seu potencial para resolver a maior parte dos problemas materiais que afligem a humanidade. Seu sucesso criou um mundo no qual seus maiores trunfos – energia nuclear, foguetes espaciais, laser, computadores e outros instrumentos eletrônicos, e os milagres da química e da bacteriologia modernas – transformaram-se em pesadelo e perigo vital. Como resultado vivemos em um mundo divido (...), perigosamente ameaçado por crises econômicas, poluição industrial (...). Por causa dessa situação mais e mais pessoas questionam a utilidade de um progresso tecnológico precipitado, que não é cuidado nem controlado por indivíduos emocionalmente maduros ou raças suficientemente evoluídas, capazes de manejar, de maneira construtiva, os poderosos instrumentos criados por esse mesmo progresso.



À medida que se deteriora a situação mundial sócio-política e ecológica, um crescente número de indivíduos parece desistir da manipulação unilateral e do controle do mundo material e voltar-se para dentro de si mesmo. Há um interesse cada vez maior na evolução da consciência como uma possível alternativa para a destruição global. Percebe-se isso na crescente popularidade da meditação ou de outras antigas práticas espirituais do oriente e na psicoterapia experiencial, tanto quanto nas pesquisas clínicas de laboratório sobre a consciência. Essas atividades apresentam um novo foco: os paradigmas tradicionais são incapazes de adaptar e responder por um grande número de observações seriamente desafiadoras vindas de áreas e fontes diferentes.

Na sua totalidade, esses dados são de importância crítica e indicam necessidade urgente de uma revisão drástica de nossos conceitos fundamentais da natureza humana e da natureza da realidade.


Retirado do livro: Além do cérebro; de Stanislav Grof

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