O presente texto é a tradução de uma palestra promovida pela Ordem Monástica Karma Teksum Chohorling, pronunciada em língua tibetana e traduzida para o inglês por intérprete tibetano, em dezembro de 1988, no Rio de Janeiro.
Todos nós, seres sensoriais, desejamos nos libertar do sofrimento e da dor. Com este sincero desejo de libertação nos dedicamos a todas as atividades, e tudo a que nos dedicamos a todas as atividades, e tudo a que nos dedicamos visa a libertação de mais sofrimento.
Enquanto prosseguimos nossas vidas, é difícil e raro que consigamos o que buscamos ser feliz com o que atingimos. Tão pronto chega-se a algo, há felicidade superficial e, por trás disto, impossibilidade de satisfação. Quanto mais temos, mais insatisfeito no sentimos, ou seja, há a ausência de um sentido de moderação. A mente, por seus hábitos, não conhece limites, e daí mais e mais sofrimentos decorrem. Assim, o sofrimento é contínuo. Isto não são palavras, mas é experiência.
Como não realizar a liberdade se a procuramos? A questão é que nossa abordagem é confusa com respeito ao sofrimento. Nossa abordagem é ficar livre do sofrimento, mas não sabemos como encontrar o conhecimento de olhar internamente a causa do sofrimento. Quando nos libertamos da prática externa e da experiência do sofrimento, nos libertamos só na superfície, sem tocar no aspecto fundamental . O que fazemos é tentar evitar a experiência do sofrimento. Temos a noção de que sofrimento é algo errado, algo externo, e tentamos ficar afastados tanto quanto possível. A fuga não dá frutos sem que se localize a causa deste sofrimento, e sem dela nos libertarmos não nos libertaremos de sua experiência. É equivocado pensar em agastar-se da experiência sem afastar-se da causa.
É uma visão errada colocar sofrimento com algo externo, como originado de fora. O sofrimento depende de circunstâncias externas, mas estas não são a causa-em-si do sofrimento. Quando permitimos que o exterior nos influencie, isto é uma permissão.